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Jean Lima Dias

  • Beatriz Monteiro
  • 2 de jun. de 2021
  • 3 min de leitura

Microempreendedor, casado e pai de dois filhos


O dia começa às 5h30 da manhã. Jean levanta, e pede a Deus pra que seja melhor do que foi ontem. Vai até a escola dos filhos buscar o material em braile para o caçula com deficiência visual. Chega em casa, abre o portão da garagem e prepara o salão para começar a trabalhar. Entra no carro, dirige para buscar a primeira cliente da semana. Uma husky que toda segunda de manhã tem seu horário reservado na agenda do Bicho de Luxo, pet shop do tio Jean e da tia Paula.

Jean Lima Dias, 33, nasceu no dia 10 de junho de 1987 no hospital Santa Marcelina no bairro de Itaquera SP. Um parto difícil advindo de uma gestação de risco. A gestante de 16 anos não estava preparada para ser mãe. Nunca houve um vínculo entre eles. Ela não gostava de brincadeira. Levava tudo na paulada. O pequeno Jean uma vez foi queimado com bitucas de cigarro por aprontar como toda criança apronta.

Aos 10 anos, seus pais se separaram. Jean escolheu morar com seu pai, que começou a beber para afogar as mágoas do divórcio. O menino ficou largado. Pra comer, trabalhou vendendo petiscos no trem da CPTM. Pulava os muros da estação para que os guardas não o pegassem, nem sua preciosa mercadoria.

De vendedor ambulante, Jean foi trabalhar num lava rápido, depois conseguiu emprego como office boy em Guarulhos. Primeiro registro em carteira. Com o trabalho não conseguia chegar na escola a tempo. Entre estudar e ter o que comer, ele escolheu trabalhar abrindo mão do ensino médio.

De office boy, virou guardinha de carro no Tatuapé. Para proteger seu dinheiro dos outros guardas, escondia a grana embaixo de uma pedra e depois ficava na balada da rua até de manhã. Foi quando conheceu a Ana Paula.

Depois de uma conversa, conseguiu o telefone dela. No dia seguinte, ligou até que ela atendesse. Marcaram um encontro numa quermesse. O dia passou rápido, quando perceberam já era quase meia noite. Não havia mais ônibus para levar Paula para sua casa no Jd. Santo André. Tiveram que ir a pé numa noite fria. Ele lhe deu a blusa e os dois conversaram por 10 Km.

Começaram a namorar. O relacionamento estava sério e tinham até conversado sobre casamento. Os planos foram adiantados quando Ana Paula contou que estava grávida. Jean perdeu o chão, pensou “Meu Deus, preciso arrumar um emprego”. Assumiu a aventura junto com Paula que se encantava com o esforço de seu noivo.

Com 18 anos eles casaram. Foi uma cerimônia simples, só no civil.

Depois de um tempo, ele conseguiu trabalhar como limpador de ônibus. Daí foi promovido para fiscal da frota. Um emprego ótimo com salário bom. Mas com as saídas pra beber depois do trabalho, Ana Paula lhe deu um ultimato. Ou o emprego ou o casamento. Jean escolheu o casamento.

Desempregado novamente, acabou se tornando Gari em Itaquera. Foram os três anos mais sofridos de sua vida. Conseguiu uma promoção, mas quando a empresa perdeu um contrato deu justa causa para todos os funcionários.

No fundo do poço, Jean apelou para a fé. Foi até a Igreja da esposa rogar a Deus. Depois conseguiu outro emprego de Gari em São Caetano. O preconceito veio. Ouviu de tudo, até mães dizendo para seus filhos: “se não estudar vai virar gari”. Jean não ficou abalado, pelo contrário, ganhou forças pois sabia que seu lugar não era ali.


Ana Paula havia realizado o sonho de abrir um pet shop. A família se mudou para Santo André para iniciar a empresa. Chamou Jean para trabalhar com ela. Depois de muita resistência, ele aceitou. Fez um curso e botou a mão na massa. Sua primeira cliente foi uma Puddle. Pegou o jeito rápido e conquistou todos os clientes da esposa. Hoje, são mais de 300 clientes satisfeitos.










Mesmo sem ter nenhuma referência paterna, Jean aprendeu a ser um bom pai. Acompanhou o parto de seus dois filhos. Camille, 14, é a melhor amiga de seu pai e aprendeu com ele o valor da determinação. Gabriel,11, mesmo tendo deficiência visual puxou o esforço do pai. Ele ajuda nas tarefas de casa e até já fez um comercial na TV. A família se resume na palavra união. Um pelo outro e Deus por todos.

 
 
 

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