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Maria da Cruz

  • Arthur Almeida e Paola Alves
  • 3 de jun. de 2021
  • 3 min de leitura

Militante incessante pela educação e direitos das mulheres





Maria da Cruz Sousa Santos já era calorosa muitos anos antes de chegar em Cajamar, tão fervorosa quanto Teresina, Piauí, sua cidade natal. Sonhadora e realizadora desde pequena. Ainda com 10 anos, já sabia que ia trabalhar com crianças. A princípio, decidiu pela pediatria, “Filha de agricultor e costureira, imagina só”. Apesar disso, não foram as improbabilidades que a levaram a mudar de planos, mas sim suas crescentes reflexões sobre injustiça. “Nessa idade eu achava que criança não morria. Achava que todo mundo nascia, crescia e morria idoso, aí descobri que não e desisti”. Descobriu um novo caminho através dos movimentos sociais.

Maria conta que foi no centro comunitário da sua cidade onde conheceu o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua e se encontrou num inédito contato com debates sobre educação, direitos da criança e do adolescente e luta de classes. “Tínhamos várias conversas com educadores, no sentido de pensar por quê a gente tinha uma vida de pobreza, e ali já foi plantada a semente da consciência social”. Foi lá também que encontrou sua primeira referência na educação. “O Júnior era um professor divertido, um ser humano com muitas dificuldades e mesmo assim alto astral. Conversava com a gente olhando no olho, muito parceiro. Foi ali que eu pensei que queria ser igual aquele cara. Queria sentar com as pessoas da minha idade, enxergar coisas boas e dizer a elas que podem sonhar, independente das dificuldades”.

Em 1992, veio para São Paulo com essa vontade de fugir da falta de perspectiva de estudos. “Lá parecia que estava dado que quando você nascia mulher não ia estudar, mas eu sempre fui atinando que não, que decidiria outra realidade pra minha vida.” Alguns anos depois, decidiu pela Pedagogia.

Formada e já atuando na área, se mudou com o então marido para Cajamar e continuou na luta. “Em Cajamar, comecei participando do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente”. Também foi nessa época que entrou concursada como professora na escola em que hoje é diretora, a Escola Estadual Rural Demetrio Rodrigues Pontes. Logo se filiou ao PT, mas a falta de ação a incomodava. Apesar das dificuldades, colaborou na criação da União Municipal do Estudantes de Cajamar. Ia sempre para as sessões da câmara e estimulava os adolescentes da escola a participar do conselho da criança e adolescente. “Éramos muito cri-cris, eu e o meu marido da época, então toda vez que tinha um debate público, as pessoas diziam ‘Lá vem o Ney e a Maria encher o saco’ (risos), porque a gente sempre ‘tava no pé pra molecada pensar e conversar sobre direitos, muitas brigas na escola pra fazer o debate de situações que aconteciam e contrariavam o ECA.”

Assim que inaugurou o PSOL, mudou de partido para ter mais liberdade de agir além do partidarismo e se desvincular de alinhamentos que não concordava. Sofreu muito com o estigma da esquerda, já que Cajamar é uma cidade conservadora, do “cidadão de bem no pior conceito que a gente tem, e é com tristeza que eu digo isso”. Para Maria, só na base da educação pra aplacar o desalento. “Trazer as pessoas pra debater, mostrar que só queremos falar de ideias de defesa do ser humano em todas as suas formas, não só de um determinado ser humano ideal, “do bem”. Todo ser humano, com todas as diferenças de cor, sexo, idade, religião, deve ser aceito e contemplado em toda sua complexidade. Nessa conquista universal que a gente acredita”.

Apesar das dificuldades, não tem planos de desistir da luta. “Os momentos difíceis sempre serviram pra acender ainda mais a chama da revolta no meu coração, que já é revoltado desde sempre. Mas sempre fui muito preocupada em como é que eu transformo essa indignação em uma atuação que não seja negativa como as que eu já vivenciei, porque senão eu me igualo a essas pessoas. E pode vir perseguir, vir com a truculência que a gente vai se defendendo e aprendendo a se defender cada vez mais”.

 
 
 

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